domingo, 22 de julho de 2012

COMEÇO - POSSIBILIDADES PARTE I




"Hoje eu tive medo
De acordar de um sonho lindo
Garantir reter guardar essa esperança
Ando em paraísos descaminhos precipícios [..]
Quando vem á tona todo amor que esta por dentro
Chamo por teu nome em transmissão de pensamento
Longe a tua casa vejo a luz do quarto acesa
Não tem nada que não vaze que segure essa represa."


Toda história, e quando eu digo toda é toda mesmo, têm o seu início-meio-fim na ordem em que as coisas precisam acontecer nenhuma foge desta sequência pragmática e infelizmente quando algumas delas chegam ao seu fim podem causar marcas.
A história que vou contar não é nem um pouco diferente dessa lógica, apesar dela começar com um fim, ela se retêm nessa sequência miserável.

Tudo começa no verão de 2008, onde a nossa garota se encontra em seus 15 anos, era uma tarde quente mas nem tanto, era aquele quente agradável de verão, nada que fosse insuportável.
Ela como de costume estava em seu quarto, escrevendo em seu velho livro, televisão ligada, fones no ouvido e o pensamento longe.. a anos luz de distância.
Já nem sabia mais sobre o que escrevia, as palavras se desenhavam na folha branca automaticamente.
Laila sempre foi uma menina quieta, nunca deu trabalho à seus pais, na escola nunca foi motivo de reclamação, apesar de ser filha única eu teimo em dizer que seus pais não prestaram a atenção devida nela.
Enchiam-a de presentes, todos os dias, mas a razão de tantos presentes assim era para não ter que ouvi-la... se é que vocês me entendem.
Porém ela nunca reclamou sobre isso com eles, ela cresceu calada sem se achar no direito de reclamar algo. Sempre que queria conversar sobre um problema, mínimo que fosse, teria que agendar horário para falar com mamãe e papai juntos.
Sua família não era rica, porém seus pais eram extremamente envolvidos com a sinagoga regional e por isso mal ficavam em casa, uma vez ou outra obrigavam-na a  acompanhá-los, o que pra ela era uma tortura sem fim ter que ficar em um lugar onde pessoas gritam, riam alto, discutem, cantam e tudo ao mesmo tempo.
Ela sempre ficava com dores de cabeça semanais depois de uma reunião dessas. Meninas judias tinham os cabelos cacheadinhos na altura do ombro, usavam vestidos pretos sóbrios até o joelho e já planejavam seus casamentos ao 15 anos de idade. Laila tinha o cabelo liso escorrido com mechas roxas nas mechas de baixo, sempre com um jeans rasgado e fones de ouvido.
Isso decepcionava seus pais, mas eles não se queixavam, ela sempre foi uma boa "calada" filha.
Nesta tarde em que nos situamos no primeiro parágrafo, ela estava sozinha em casa. Esperava uma ligação e de repente o celular tocou.

- Alô?
- Se adivinhar onde estou, ganha um chocolate.
- Já to indo abrir a porta Gabri...
-Nossa! Um pouquinho mais de entusiasmo não seria mal né?

Era Gabriel, seu melhor amigo desde a 5ª série do Ensino Fundamental.
Gabriel tinha a idade de Laila, cabelos cacheados apesar de não ser de família Judia os cachinhos dele chamavam atenção dela e usava um all-star velho e surrado, que estava rabiscado com o nome dela.
Eles mantinham aquela amizade inexplicável que é verdadeira, simples e fiel.
Eu até diria que era uma amizade de irmão, mas não posso.
Os dois andavam sempre juntos, gostavam das mesmas coisas, mesmos filmes, mesmas músicas, mesmos seriados de tv, mesmos livros... eles pareciam ser a mesma pessoa.Todo mundo achava que eram namorados e durante um bom tempo isso perturbou muito Laila, até que um dia ela se acostumou com a ideia.
Então ela, com os pés descalços foi recepcionar seu amigo, que se encontrava com um livro na mão.

- E aí cachinhos dourados.
- Ora ora, veja quem dormiu com os pés destapados hoje...
- Não começa.
- Ah é mesmo, não é hoje, é SEMPRE.

E assim os dois iam, se alfinetando mas sempre rindo das próprias piadas.
Já fazia quase 2 meses que Laila estava a cultivar um sentimento um pouco mais tenso por Gabriel, e isso vinha tirando suas noites de sono.
Porquê?
Se perguntava ela, porque isso tinha que acontecer justo com ela e justo agora, Gabriel se encontrava de coração partido desde que começou a gostar de uma menina mais velha e ela nem bola deu pra ele.
Todos os dias Laila aconselhava seu amigo e o ouvia chorar pela outra menina, isso machucava muito ela mas como dizer isso pra ele... logo agora e assim? 
Desde então, Laila começou a ficar mau-humorada todas às vezes que sabia que ele iria falar dela, ou seja, o tempo todo.
Ela andava rabugenta, e ele nem se prestou a questionar do porquê de tanto mau-humor, mas ela sabia que ele estava muito pior que ela por isso ela não se importava mais em ouvir suas mágoas e enxugar as lágrimas dele.
Afinal, amigo é amigo.
E uma tarde inteira passou quando escureceu ele resolveu ir embora, convidou-a para tomar um sorvete mas ela recusou, pois sabia onde iria chegar aquela conversa e ela não estava muito no clima de "reparadora de sentimentos" no dia de hoje.
Na hora de se despedir, enquanto um rápido e curto abraço se davam, ela queria estar abraçando ele de outro jeito... ela queria estar chamando ele de "meu" e então ela se assustou com tal ideia e com medo de que ele percebesse possessividade demais em seus braços ela logo se afastou e tratou de pensar em outra coisa pra não cultivar isso dentro dela.
Tarde demais, pois foi só ele dar as costas que ela correu toda derretida para seu quarto escrever em seu velho livro pensamentos tão doces, que deixaria diabético qualquer outra pessoa que lesse.


 " Hoje o Gabri veio me ver, passamos uma tarde inteira discutindo sobre o novo livro da J.J. Helmes, é simplesmente demais!
Na realidade não sei o que é mais demais, se é o livro ou a companhia dele...
Cada dia tenho mais certeza de que to gostando dele...
Não poderia ser pior, certo?
Se apaixonar por seu melhor amigo quando ele está apaixonado por outra pessoa. Pelo menos hoje ele não tocou tanto naquele assunto, espero que esteja superando isso.
Seria tão bom se sim.. Tê-lo de coração aberto pra mim.
Porém eu sei que isso não vai acabar bem, eu posso não ter amado alguém ainda, mas sei que quando misturamos amizade e sentimento das duas uma: ou dá certo ou nem a amizade resta.
E este é o meu maior medo... Perder a amizade dele seria algo extremamente desnecessário e doloroso.
Mas eu tenho 4 possibilidades, que podem acontecer quando eu me abrir com ele:

 1. Ele vai aceitar, mas não quer dizer que irá retribuir meu amor, e continuaremos amigos.
 2. Ele vai aceitar, e iremos ver onde isso nos levará.
 3. Ele não vai aceitar, e vai ferrar tudo, porque vai se afastar de mim..
 4. Ainda estou para descobrir esta..

Bem, é isso, tive uma tarde incrível, com uma pessoa incrível! G♥"



E assim ela terminou de escrever em seu velho diário, uma batida bruta na porta e ela sabia que seus pais já estavam de volta em casa.
Decidiu ir dar um pouco de atenção à eles ou pedir um pouco de atenção...
Com as meias um pouco encardidas ela foi pé por pé até a porta da cozinha ver o que sua mãe preparava e quando pensava que poderia passar despercebida por ela sua mãe lhe chamou a atenção por andar de pés descalços.
Ela achava incrível o dom que sua mãe tinha de saber que ela estava presente, mesmo quando ela tentava o máximo não fazer barulho, ela sempre sabia.
Ao voltar ela conversou um pouco com seus pais, arrancou um sorriso de seu pai e isso foi o suficiente pra dar como ganha sua noite.
Retornou ao quarto, à parábola infinita de pensamentos, zapeou alguns canais e adormeceu.

continua...

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