quinta-feira, 4 de outubro de 2012

HOSPITAL DE FREIRAS P.1

"Pois tenho, que o céu tudo aponta e marca,
Um processo a correr n'essa comarca,
E que, em dia do grande julgamento,
 Minhas culpas não sejam de maior."


Primeiro dia de aula, seis horas da manhã, o dia acordando, ela estava trancada no banheiro.
Sua mãe estava quase botando à baixo a porta esbravejando e quase espumando pela boca quando seu pai decidiu tomar as rédeas da situação e tentar tirá-la lá de dentro. Poucas palavras e ela já tinha saído do banheiro. Os dois decidiram ir  caminhando em direção a escola, no caminho papai foi a tranquilizando de como essa escola seria tranquila e de como as pessoas iriam lhe fazer bem. Seria a primeira noite fora de casa, aliás, a primeira semana longe de seus pais. Ela estava com o estômago embrulhado, a consciência pesada pois não conseguira se despedir nem de Gabriel e nem de Bruno. Tudo girava, os pensamentos e o peso da culpa a massacrava. Ao chegar na esquina da escola soltou da mão de seu pai e falou:

- "Tudo bem, daqui eu vou."

Se despediu com um beijo trêmulo e marchou diante à sua forca, ela tinha plena consciência de que aquilo era o pior castigo de sua vida. Ao entrar se deparou com meninas uniformizadas e grupinhos formados. Freiras com seus rosários entrelaçados nos dedos de suas mãos passavam o tempo todo de um lado para o outro só para se certificar de que tudo estava bem. A madre superior se encontrava no topo da escada analisando suas meninas, foi quando ela se viu também sendo analisada.
Sentiu vontade de correr mas ao dar um passo para trás ouviu um grande estampido, o que pareceu ser dos portões se fechando, ao olhar para trás viu seu pai acenando com um sorriso doce enquanto segurava seu casaco, passou a mão na cintura e viu que a primeira coisa errada já tinha acontecido, seu casaco tinha abandonado o barco.
Os olhos encheram d'água, ela quis gritar e pedir pra ir embora, mas quis fazer bonito, estufou o peito e deu um passo à frente. Ao fazer isso teve seu nome chamado pela alta inquisidora.

"Menina."
Laila se virou e olhou para uma velha senhora de nariz muito grande e olhos pequenos, ela passava um pouco de medo mas também era muito engraçada.
- "Eu?."
- "Aqui nessa instituição não responderás mais assim, você irá aprender bons modos. E a partir de agora me chame de Irmã. Percebo que é nova na escola portanto me acompanhe para que eu possa lhe mostrar seus aposentos.

Então ela acompanhou aquela rígida senhora por um longo corredor escuro, em cada porta se encontrava um crucifixo de madeira e em cada final de corredor uma imagem de um santo ou santa. É... aquilo realmente dava medo. Meninas corriam para a porta, para poderem analisar a "carne nova", algumas riam baixinho enquanto outras ficavam cochichando umas com as outras. Ao chegarem no final do corredor mais longo ela se deparou com camas lado a lado, nenhuma televisão no quarto apenas janelas grandes e sem cortina. Aquilo mais parecia um sanatório do que uma escola.

- "Aqui é onde você irá dormir, juntamente com outras cinco meninas que também são novas na instituição. Perceba que são 07:15 da manhã, às 8h teremos a recepção no auditório principal para as novas alunas. Seja pontual."

Com isso a freira se retirou do quarto com aquelas vestes longas que varriam o chão. Laila ficou olhando para as janelas do quarto que possuíam grades e pensou o quão difícil seria fugir daquele lugar. Logo em seguida meninas foram chegando no mesmo quarto levadas pela mesma alta inquisidora, e ao completarem seis meninas elas decidiram se conhecer. Laila percebeu que em seu quarto tinham ficado as piores das piores. 

1. Bruna: quieta, aparentemente analítica mas mais burra que uma porta.
2. Sílvia: risonha, enquanto algumas conversavam ela escrevia em uma agenda.
3. Denise: alisava os cabelos enquanto cheirava a ponta deles, não interagiu.
4. Mônica: falante e participativa, chegava a irritar de tanto que queria fazer "novas amigas".
5. Marina: gêmea de Mariana, era a mais que se identificava com Laila pelas roupas e pelo papo mas não sabíamos se as ideias eram as mesmas. 

- "Cadê a sua irmã?" Perguntou a mais falante de todas, Mônica.
- "Ela entrou aqui ano passado, eu não quis vir e meus pais me deixaram um ano repensando a vida." Respondeu Marina.
- "Sorte a sua." Retrucou Sílvia que agora não sorria mais.
- "Vocês acham que seremos melhores amigas?" Perguntou Bruna.
- "É quase que uma obrigação já que passaremos 3 anos juntas não é?" Exclamou Mônica um tanto que agitada.
- "Façam o que quiserem mas não cheguem perto das meninas do terceiro ano e nem do banheiro do último andar." Então pela primeira vez falou Denise.

Então todas olharam para Denise enquanto ela contava a história das meninas que tinham sofrido "boas-vindas" no banheiro do último andar, que todas as meninas do terceiro ano são malvadas quanto ao seus trotes, e que também algumas freiras de lá eram mais malvadas por não se oporem perante os fatos. Não sabia qual partido a alta inquisidora tinha tomado, por enquanto ela se mantinha neutra, o que era um problema ainda maior. Pois enquanto meninas quase morriam lá dentro ela nunca fazia nada. Ao terminar de contar a história o sinal bateu e elas sabiam que a missa de recepção para as novatas tinha começado, todas as meninas se levantaram para ir enquanto Laila ficara sentada na cama digerindo tudo aquilo. Falou para suas novas amigas que iria logo em seguida, tinha que terminar de arrumas suas coisas. Minutos depois da ausência das meninas no quarto, ela se levantou e foi caminhando pelo longo corredor, aquelas imagens e aqueles crucifixos ainda observavam ela e o medo aumentava. Intrigada com toda aquela situação ela parou em frente a escada que dava acesso ao andares superiores, ao colocar o pé no primeiro degrau foi interrompida.

- "Olha só o que temos aqui meninas." 
- "Só pode ser brincadeira." Resmungou Laila.
- " O que você disse?"
- "Me chamo Laila."
- "Nós já sabemos bobinha, nós somos os olhos dessa escola."
Laila se deparou com um grupo de 4 meninas mais velhas, arianas.
- "Sou Glória, e nós somos o grupo de apoio. Você está subindo?"
- "Eu estou perdida."
- "Ótimo! Deixa que nós te levaremos para a grande cerimônia."

Subiram as escadas juntas, Laila sabia que o auditório era no primeiro andar e que estavam indo em direção ao quarto andar.
Nenhuma das meninas mantivera o diálogo começado minutos antes, somente Glória que forçava ser bem gentil e receptiva. Ao chegarem no quarto andar, estava tudo escuro e interditado. Marcas de queimaduras pelas paredes e o chão completamente deformado. Foi então que Laila sabia que estava em encrenca. Quando iam em direção ao corredor final, que dava acesso ao último banheiro, Glória deu um sorriso predatório e Laila sabia que era hora de correr, mas ela ficou como toda menina valente, caminhou junto com o "grupo de apoio" em direção ao maldito banheiro.
Ao chegarem lá, Glória ficou encarando-a por alguns segundos antes de tirar uma tesoura do bolso e ir em direção à Laila, ela se esquivou abruptamente, enquanto Glória tentava lhe acertar com a tesoura Laila conseguia se esquivar de alguns débeis golpes. Glória se descuidou e Laila acertou um soco reto em seu nariz que fez sangue jorrar pelo chão, esbravejava enquanto chamava suas outras três companheiras. As outras meninas seguraram Laila enquanto Glória se aproximou.

- "Então você é do tipo valentona?" Falou Glória enquanto o sangue que escorria de seu nariz pintava parte do seu rosto de vermelho.
- "E esse cabelo roxo, vocês acham que faz parte do uniforme de lésbica enrustida, meninas?"
Então Glória colocou o cabelo de Laila para frente, seu cabelo era comprido com o caimento abaixo da cintura, separou de uma forma como se fosse prendê-lo e antes que Laila pudesse afastar a tesoura que estava mais uma vez perto demais de seu rosto, Glória começou a cortar o seu cabelo.
- "Vamos ver se assim você adquiri um pouco de respeito." Falou Glória enquanto a tesoura engasgava nos cabelos loiros-arroxeados de Laila.
- "Guarda bem essa tesoura, pois vai ser com ela que eu vou rasgar a tua cara." Respondeu Laila em seguida que cuspira na cara de Glória.
- "Valentona mesmo hein? Só quero ver se vai continuar valente quando a noite cair."

Assim Glória e as outras meninas trancaram ela no último banheiro, davam risadas enquanto seus passos se ouviam cada vez mais distantes.
Laila sabia que conseguiria sair dali era questão de tempo até alguém dar falta dela. Se sentou no vaso, tentou puxar o que sobrara de seu cabelo pra frente, sem sucesso pois naquele instante percebeu que ele tinha sido cortado acima dos ombros, não deixou isso a distrair, o cheiro de enxofre era forte. A porta do banheiro era verde e tinha alguns arranhões, foi quando ouviu a porta do banheiro ao lado bater com toda a violência.

"TÊM ALGUÉM AÍ!!? SOCORRO!! EU ESTOU PRESA AQUI" Gritou ela.

Foi quando ao tentar girar a maçaneta da porta, leu escrito no teto.

                                             "bem-vinda ao hospital de freiras."


                                  

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

INCOMING


"Amor igual ao teu eu nunca mais terei
Amor que eu nunca vi igual
E que eu nunca mais terei."


Voltamos no tempo e nos encontramos onde nossa pequena Laila está entrando em uma fase crítica da vida chamada "pré-adolescência", onde a infância começa a esvair-se e os sintomas mau-humorados começam a aparecer quase que cotidianamente. 
Ela está sentada no sofá esperando admirando sua vovó fazer bolinhos de chuva enquanto seu primo puxa seus cabelos e lhe dá beliscões que deixam roxidões quase que pretos em sua pele branquinha. O choro vêm quase que instantaneamente mas ela segura pois sabe que se colocar a boca no mundo a primeira atitude de sua avó será separar ela dele.

- "Cada um pro seu canto JÁ!"

Não demorou muito e vovó já estava ordenando isso à seus dois netos caçulas, ela ficava em um canto chorando enquanto soluçava chingões à ele, enquanto ele do outro lado da sala ficava esticando a língua o mais comprido que pudesse somente para tirá-la do sério. A relação de Laila com Bruno era exatamente assim, e foi exatamente até o último dia.

Aceleramos no tempo e estamos de volta onde nossa pequena aventureira encontra-se sentada a varanda de sua casa, com as mãos trêmulas e o rosto vermelho. Ela não conseguia se conformar com a atitude de Gabriel e pior ainda, não conseguia se conformar com o fato de que ele voltou atrás. Se tinha uma coisa que irritava profundamente ela eram pessoas que voltavam atrás de suas palavras. Sim, ela estava sofrendo, mas estava convicta de que ele era um caso perdido. Não, ela jamais soube lidar com a possibilidade de "mudanças" nessa história.
Laila entrou para casa, procurou sua avó e quando a achou lhe fez a seguinte pergunta:

"Nanny, você acha que as pessoas nunca estão certas do que falam?"

Com um olhar cheio de sorrisos Nanny tentou explicar à sua pequena o paradoxo existente entre se "equivocar" e se "precipitar" em palavras. Ficaram por horas conversando sobre histórias que mesmo em épocas completamente diferentes eram parecidas. Laila como sempre muito questionante fez com que Nanny desse uma volta grande no mundo paralelo masculino, custou um bocado mas finalmente Laila entendeu que nem sempre os homens falam o que realmente querem e que também não só os homens mas pessoas em geral gostam de ser persuadidas quando a causa é ganha. E no caso de Gabri, a causa era ganha já que ele necessitava de um somente "não vai" quando na realidade já tinha ido. Eram quatorze anos, quatorze anos em pessoa de completa dúvida e negação do que fazer e pra onde ir. Ela sabia que estava completamente nesse mundo infinito mas nunca teve medo disso. 
Depois da palestra explicativa do universo masculino de sua querida Nanny, ela resolveu ligar para o seu melhor amigo mais próximo e colocar as ideias no lugar. As coisas dentro dela ainda estavam bastante confusas após aquela carta, mas se tinha algo de que ela tinha completa certeza era de que não queria ficar mais nem um minuto longe do seu primo.
O celular chamou, foram dezenas de ligações não atendidas. Extremamente irritada ela vestiu seus velhos all-stars e marchou até a casa dele. No meio do caminho foi pensando em como tinha ficado dependente da companhia dele e como isso iria refletir de um jeito negativo quando as aulas retornassem. Faltavam poucas semanas até o início das aulas e ela não sabia de mais nada.
Chegou em frente a casa dele, sua madrinha veio lhe receber, perguntou por ele e logo com a camiseta do seu time rival ele apareceu, com um sorriso largo e despreocupado no rosto. Cara de quem recém tinha acordado, mas acreditem já eram 17h de uma tarde preguiçosa.

- "Que você tá fazendo aqui já? A saudade não aguentou?"
- '"Nossa quanto amor."
- "Não tenho dinheiro, nem pão velho."
- "Para. O assunto é sério."
- "Já disse que só vou morrer daqui a alguns meses."

Ao falar isso, os olhos dela se encheram de lágrimas e ela se agarrou nele, com os braços entrelaçados na cintura dele, ela sentiu o maior medo de sua vida. 
Perder seu melhor amigo.
Ele percebeu que a coisa estava mais complicada do que imaginava então a afastou de seu peito e olhando diretamente para os olhos azuis dela pediu para que ela explicasse o que estava ocorrendo. Laila botou pra fora todo seu medo e sua confusão "adolescêntica", surtou algumas vezes de raiva por Gabriel ter voltado atrás e bagunçado todo seu plano de esquecê-lo e curtir o fim de suas férias em uma fossa incrível mas pelo menos, conformada. Disse também que achou a sua carta no mínimo absurda e que se um dia ele ousasse deixá-la, ela o buscaria até no quinto dos infernos! Com o mesmo sorriso despreocupado ele tentou aconselhar ela a ir conversar com seu amor mal resolvido e não tocou no assunto da carta, a tarde foi caindo e a noite chegando então ela decidiu voltar para casa antes que Nanny ficasse preocupada. No caminho de volta, ela conseguiu colocar as ideias no lugar e pela primeira vez nos últimos meses conseguiu tomar uma decisão. Decidiu esquecer Gabriel, tentar limpar a amizade e seguir com a vida. Algo dizia para ela que se continuasse remoendo essa história o fim não seria nada bom e pior do que ela já se encontrava, não queria ficar.
Ao chegar na esquina de sua casa viu o carro de seus pais estacionado na frente de casa, das duas uma, ou seus pais realmente voltaram ou eles tinham voltado para pegar algo rápido e continuar sua "viagem". Colocou a chave na porta e já conseguia escutar os berros de dona Simone chingando seu "sumiço". Ao entrar em casa foi recebida por uma mamãe zangada, um papai calado e uma vovó preocupada. Ela percebeu que tinha algo errado quando vovó a olhou fixamente, segurou sua mão e a levou até o quarto dos fundos onde lá se encontrava um colchão manchado de sangue. Nanny tentara esconder de sua mãe, mas com uma tentativa falha. Laila não confessou o que tinha realmente acontecido, mas até aí o circo já estava completamente armado. Sua mãe tinha entrado em estado catatônico e sem dar uma única oportunidade de Laila se retratar esbravejou:

"Colégio interno feminino para a senhorita."

Se Laila fosse uma casa, essa frase de sua mãe teria sido um raio onde o mesmo teria partido tudo ao meio. Laila não gritou nem chiou, sentou na beira da escada e com as mãos segurando sua testa que pulsava tentou imaginar como seria sua vida dentro de um colégio interno com meninas que nunca tinha visto na sua vida inteira. Perdendo suas amigas de escola, perdendo o contato com Gabriel e o resto do mundo. Nem um segundo a mais e o chão estava todo vomitado. Como se tudo tivesse indo para o inferno mesmo sua mãe veio berrando uma possível gestação, onde nisso seu pai se meteu e assim a situação se amenizou. Depois de um teste de farmácia negativo e uma Laila humilhada, o ambiente na casa estava se acalmando. Sua mãe entrou no quarto dela e tentou com poucas palavras explicar sua preocupação e zelo, querendo dizer que essa não é a atitude que ela esperava de sua única filha. Depois de uma longa conversa, um abraço selou a paz dentro de casa porém dona Simone não voltara atrás de sua decisão quanto ao colégio interno de meninas e para melhorar a situação proibira ela de ver o seu primo nos próximos três meses. Laila pensou em auto-suforca-se com o travesseiro mas a preguiça lhe impediu. Procurou os fones de ouvido, colocou sua música preferida e se entregou aos cuidados de Morfeu.


segunda-feira, 6 de agosto de 2012

HIT TWO




"Eu quero que dure.
Eu não quero um relacionamento que dure meses
e que termine em um piscar de olhos.
Eu não quero experimentar a dor
e me decepcionar mais uma vez...
Eu quero estar com você
Eu quero que o nosso amor dure
Não importa o que eu tiver que enfrentar
e não importa quando as coisas difíceis começar.
Eu quero nós dois juntos, pra sempre."


Aos 15 anos de idade as garotas pensam em sair para namorar, conhecer rapazes, festas, o primeiro porre, descobrir sua libido, maquiagem um pouco mais marcada, saltos-altos, brigas com os pais cada vez mais frequentes por quererem chegar mais tarde em casa, crises adolescênticas de raiva e impulsividade e por aí vai...
Nossa garota aos 15 anos de idade gostava de ainda vestir seu pijama de girafas, ter um diário para escrever todos os dias, de usar seu all-star velho, de beber suco de laranja e quando em alguma festa uma coca-cola bem gelada com limão para fazer uma feição e a única briga frequente em casa com seus pais era de quando tinha alguma festividade na sinagoga e sua mãe teimava em lhe vestir aquelas roupas que nem sua Nanny vestiria.
Pois bem, essa era a nossa garota aos 15 anos de idade antes de ter um coração partido. Situados no verão de 2008 onde os pais dela ainda viajavam pela América do Sul, sua avó a cuidava e enquanto isso seu primo decidira passar uns dias com elas. Em uma noite quente, Laila e Bruno decidiram ir jogar pedras na ponte assim como ela fazia com Gabriel. Ao caminharem em direção à ponte, Bruno debochava de Laila por ainda usar blusas com estampas infantis e aquele cabelo roxo que agora estava mais desbotado que sua própria cara.
Ela sabia que as brincadeiras de Bruno sempre tinham um fundo de verdade, Laila nunca se importou com a opinião alheia mas estava chegando em uma certa idade onde a aceitação alheia começava a ficar mais importante. Pois bem, ao chegarem na ponte ela parou na frente dele, olhou fixo em seus olhos castanhos e falou:

- Me beija?
- Mas porqu..
Então Laila rouba um beijo dele e enquanto o beijava carinhosamente, Laila pegou as mãos dele e entrelaçou em sua cintura. Como se isso não bastasse ela começou a passar suas mãos pelas costas dele e indo abaixo quando ele soltou-se e falou:
- O que você tá fazendo?
- Experimentando.
- Você nunca fez isso.
- Só queria saber como era.
- Mas Laila...
- Ah vamos lá... Diga de uma vez o que as outras meninas têm que eu não tenho.
- Nada.
- Binho, fala logo.
- Promete que não vai chorar?
- Vai te catar.
- Bom, primeiramente Tita, tu têm que começar a te valorizar um pouco mais. Têm coxas grossas, seios fartos e um bumbum avantajado. Essas blusas da Taokaka e essas calças jeans rasgadas não te valorizam tanto assim. Além do mais esse cabelo roxo ficaria legal 3 anos atrás mas agora tá na hora de mudar um pouco não acha? Uma cor no rosto não faz mal também...
- É... Eu não sabia que você tinha o seu lado feminino tão bem resolvido.

Assim os dois caíram na risada e logo em seguida Bruno roubou um beijo quente dela. As mãos logo começaram a caminhar pelos corpos enquanto um calor subia. Uma mistura de medo e desejo começava a tomar conta de Laila e os dois resolveram parar. Enquanto caminhavam pra casa, Laila ainda encucava com as dicas de Bruno. Ao chegar em casa, Bruno foi-se deitar no quarto de hóspedes, Laila fora tomar um banho, voltou ao quarto e ao abrir a porta do guarda-roupas ficou encarando seu pijama de girafinhas azuis e pensando em tudo o que Bruno tinha lhe falado. Vestiu suas roupas íntimas, colocou uma blusa comprida preta, espiou se Nanny ainda dormia e foi de fininho para o quarto de Bruno. Ao entrar ele estava dormindo, Laila se deitou ao lado dele e começou a beijar sua nuca, ao acordar Bruno se virou e a abraçou.

- O que estás fazendo pequena?
- Experimentando.
- As coisas não podem ser assim.
- Mas Binho, eu amo você.

Ao dizer isso Laila enrubreceu e Bruno olhou fixamente à ela, ela estava deitada e ele por cima de seu ombro agora a olhava do alto.

- Repete.
- Eu te am...

Antes de terminar a frase Laila foi surpreendida com um beijo doce e quente, com os ânimos um pouco exaltados e corpos pegando fogo, os dois só pararam quando ambos os corpos se encontravam nús. Por um momento ela queria ter voltado atrás mas ao ver os olhos castanhos dele que tentavam decifrar os olhos verdes dela, ela tinha certeza que ali era o lugar onde ela deveria estar e mais nada. 
E assim Laila perdeu sua virgindade, a palavra pode ser forte, mas ela nunca se sentiu tão feliz na vida. No dia seguinte os dois agiram como se nada tivesse acontecido, mas ao sair para caminhar Laila foi barrada por Bruno e um beijo romântico. Caminhando em direção à antiga estrada para dar um alívio ao pensamentos, ela pensava no que tinha acontecido e em como se sentia. 
Ao olhar para o céu que agora se encontrava cinza, Laila fechou os olhos e sentiu o vento beijar seu rosto. O pensamento estava em Gabriel mas o coração começava a ficar balançado por Bruno. Ao chegar em casa Laila se deparou com as mochilas de Bruno na porta de sua casa, por um momento ela não entendeu e quis questionar... mas se era de vontade dele ir embora, não seria ela quem impediria. Ao sair, Bruno olhou para Laila e pediu para que ela olhasse em cima de sua cama quando voltasse à seu quarto. A chegar no quarto Laila se deparou com um carta em cima de sua cama, aproximou-se, tirou os tênis, debruçou-se na beirada da cama e leu com atenção:


"Doce Laila, eu estou indo embora pois o tempo que me resta aqui com você e com todos os meus amigos e entes queridos é curto. Preciso lhe dizer que eu irei embora cedo, eu sinto isso. Mas prometa-me que não me odiará por isso e eu prometo lhe cuidar para o resto de nossas, ou melhor, sua vida. O que tivemos ontem foi a prova definitiva de que precisava para saber de que você é o amor da minha vida, minha querida prima amada... Quem poderia julgar-nos? Duas crianças que se amaram desde a primeira birra. E assim foi... E assim pra sempre será.
Peço que não me procure mais, pois eu virei a ti e será nossa despedida. Mantenha isso em mente e eu poderei ir embora em paz. 
Eu amo muito você Tita.
Com carinho, Bruno."

Ao terminar de ler, ela sentiu uma tristeza profunda dentro de si. Não era o medo de perder Bruno nem o fato dele ter ido embora assim de repente, mas pelo fato de que ela sentiu Bruno escrevendo a verdade naquela carta... Ir embora? Mas pra onde? Ela pouco tinha entendido dessa carta mas decidiu guardar com muito carinho e cuidado, assim como Bruno estava guardado em seu coração.
Olhando para o teto de seu quarto ela tinha leves lembranças da noite passada, um sorriso bobo aparecia de vez em quando nos cantos de sua boca e os arrepios eram inevitáveis toda vez que ela lembrava do que ele tinha escrito na carta sobre ela ser o amor da vida dele.
Laila já não mantinha mais seu pensamento tanto em Gabriel, mas toda noite quando deitava sua cabeça no travesseiro era inevitável... Naquela noite, o celular dela tocara e para sua surpresa era Gabriel quem a chamava.

- Fala.
- Lalli! Parece que faz séculos que não nos falamos...
- Ainda moro no mesmo lugar Gabriel.
- Você pode vir aqui na ponte?
- Para quê Gabriel? Já falamos e ferimos tudo o que devíamos um ao outro.
- Você não quer saber o que eu tenho pra lhe falar?
- Não Gabriel.
- Mas Lalli.

E assim ela desligou o celular no meio da conversa, em questão de segundos seu celular tocou novamente, ela quase atendeu mandando a pessoa do outro lado para o Japão mas ao olhar a tela de seu celular vira que quem a ligava era Nanda uma de suas melhores "falsas" amigas de escola, mas que ainda assim Laila mantinha um afeto muito grande pela mesma.

- Alô?
- Oi Lailinha!
- Oi Nanda..
- Menina você não vai acreditar na fofoca do momento!
- O que é?
- O Gabriel foi corneado na frente de todo mundo ontem na festa do Fabrício, a namorada dele beijou o Gustavo sem mais nem menos!!!
- O quê?
- É, é isso mesmo! O Gabriel levou um pé!!
- Laila?
- Laila, ta aí ainda?

Laila largou o celular em cima da cama, ainda de pantufas saiu porta à fora sem nem falar para Nanny onde ia, o sangue fervia em sua cabeça e os pensamentos eram todos possíveis. Ao chegar na ponte ela avistou Gabriel, ela foi em direção à ele, chegou rapidamente perto dele. Gabriel ao vê-la abriu um sorriso e os braços, quando foi pronunciar "Lai.." foi atingido por um tabefe dolorido no rosto. Laila desferiu um tapa em seu melhor amigo, a mão que lhe atingira estava cheia de ódio e dor.

- Você pensa que as coisas são assim entre a gente Gabriel? Eu fiquei sabendo do que aconteceu ontem. Você achou que depois de tudo o que me fez eu ainda iria querer você? Sabe eu te amo, mas estou rindo abusivamente do que aconteceu, eu sabia que isso iria acontecer. Esse tapa foi dado porque você faltou com respeito em relação a nossa amizade. Eu não sou chão de ringue de boxe para te segurar toda vez que você for nocauteado. Eu apenas sinto muito, mas vá sofrer um pouco do que eu sofri nos últimos dias por sua causa.

Laila deu as costas, as lágrimas não foram seguradas, seu rosto agora estava vermelho de raiva e dor. Dor por ter batido em Gabriel. Pelas coisas terem chegado à esse ponto. Seu coração continuava quebrado, mas agora ela sabia que tudo aquilo se tratava de um amor não correspondido pelo seu ex-melhor amigo.


quarta-feira, 1 de agosto de 2012

FIRST HIT


"Nada nessa vida se leva, tudo se deixa
Então te deixo o meu maior sorriso
O meu melhor abraço
Minha melhor história, minha melhor compreensão
E da minha amizade, a maior porção."

Quem nunca, até os dias atuais, sentiu vontade de simplesmente sumir? Ou ainda, afundar-se em cobertas e desejar nunca mais ter que sair de lá até que todos os problemas tenham-se resolvido como num passe de mágica. Quem nunca?
E hoje aqui escrevendo esta história para vocês, lendo tudo que já li da Laila vejo que mesmo cruel, o amor é necessário.
Li um reportagem em um blog, onde a minha visão do amor se amplificou.
Afinal o que é o amor?

O amor ainda não têm definição, o amor não têm explicação...
Pode-se que tenhamos justificativas para o mesmo, mas uma explicação exata ainda não.
Quantas vezes de coração partido praguejamos "Eu nunca mais vou amar!" e quando menos esperamos a vida está rindo da nossa cara de novo, e lá estamos nós percebendo que as qualidades daquela pessoa bate muito mais do que você esperava com as suas, olhando o celular de minuto em minuto à espera de uma mensagem e mesmo se aquela pessoa mandar um simples "oi" o sorriso vai de orelha à orelha, não é?
E então nos envolvemos, começamos a nos apegar, os dias começam a passar com a presença daquela pessoa no nosso cotidiano, você já dorme e acorda pensando nela e quando menos esperamos estamos ajeitando um lugar na gaveta para colocar suas coisas, escovas de dentes juntas e pés entrelaçados ao dormir.
Então com tudo isso vêm a convivência que nem sempre é aquela maravilha toda que pensávamos, as brigas se tornam um pouco mais frequentes e massantes, você já não consegue aturar tão fácil aquele defeitinho mínimo que no início passava tão despercebido.
O encanto vai esvaindo-se, você começa a se desapegar e quando você se dá por conta tudo já acabou, então vêm a dor de ter aquela pessoa tão querida fora de sua vida e o descostume à ficar sozinho... e mais uma vez lá vamos nós ao "Eu nunca mais vou amar!".

Mas e você?
Você já parou pra pensar o que é o amor na sua vida?
Será que o amor é amarmos acima de tudo? Defeitos e qualidades?
Amor é saber perdoar? É saber respeitar? Ou o amor é quando a gente já não consegue ficar longe daquela pessoa?
Eu digo que o amor é tudo isso misturado, e acima de tudo, necessário em nossas vidas.
Mesmo ele nos fazendo sofrer e chorar como criancinhas de 5 anos de idade não existiríamos se não fosse por ele. Então ame, se machuque, sofra, perdoe, amadureça, aprenda e esqueça. Para no final iniciar um novo ciclo!

continuação...

- Sam.
- O que houve?
- Ele voltou, eu acabei de conversar com ele...
 Os soluços eram tantos que Laila mal conseguia terminar uma frase.
- Deixe-me adivinhar. Você contou a verdade para ele, e ele não reagiu como o esperado?
- Eu já tinha contado mas, ele tinha reagido bem... Só que agora ele diz que está namorando e que...
- Laila, "reagir bem" define isso pra mim por favor.
- Ele aceitou o fato de eu estar apaixonada por ele mas nunca me deu esperanças de que...
- Repita o final da frase para si mesma então.
 Ela ficou muda por alguns segundos e realmente ali estava sua resposta.
- Ele nunca te deu esperanças Lai... Isso era motivo suficiente para não esperá-lo do jeito que você o fez.
- Eu vou... depois eu te ligo Sam.

E assim Laila desligou o telefone com uma raiva descomunal querendo voltar no tempo mas, não para socar a cara de Gabriel e sim a sua própria. No entanto ela começou a pensar um pouco mais fundo no que Samuel tinha dito, ela realmente esperou Gabriel com esperanças de que o tempo e a saudade pudessem fazer de fato ele mudar de ideia... Mas no fundo ela sabia que o coração dele sempre pertenceu à outra pessoa. Ajeitou-se em seu travesseiro, algumas lágrimas ainda caíram mas ela adormeceu. O dia então amanheceu e cedo pela manhã Nanny batia na porta para tentar tirá-la da cama, sua madrinha e seu tio iriam almoçar com elas no dia de hoje. Ao lembrar disso Laila deu um pulo da cama e correu para o banho. 
Esqueci de contar que Laila tinha um romancezinho infantil com seu primo Bruno desde sempre, quando pequenos os dois se escondiam em baixo da mesa da cozinha para roubar bitocas um do outro. Bruno era 2 anos mais velho que ela, naquela época Laila com 15 anos e Bruno com 17 mas os dois se amavam mesmo que de um jeito inocente. Era aquele amor doce de primos mas, com algo a mais. Ela sabia que ele poderia muito bem balançar seu coração.
Quando seus tios chegaram na casa de Laila, ela ainda estava no banho. Nanny abriu a porta para eles e como sempre alguns gritos de felicidade enquanto o cachorro-rato latia na volta. Laila estava terminando de tomar seu banho quando alguém abriu o vitral dando-lhe um susto épico. Era Bruno.

- MAS O QUÊ É..
- Grita e eu digo pra vovó que foi você quem me chamou pra cá.
- SAI DAQU...
- Não vai me dar um beijo?

Com um sorriso debochado Bruno olhou pra baixo, o rosto dela logo ficou mais vermelho que uma pedra de rubi mas mesmo assim ela também sorriu. Era aquele jeito cafajeste dele que fazia ela sorrir. Os dois se beijaram e depois de algumas carícias Bruno decidiu sair do banheiro para não deixar suspeita. Com o rosto ainda pegando fogo Laila foi para o seu quarto se vestir, ao sentar na cama ela sentiu pena de si mesma. Apaixonada pelo seu melhor amigo, envolvida com seu primo. O que poderia ser pior que isso? Nem um e nem outro ela poderia ter mesmo que quisesse. Já vestida ela voltou para a cozinha onde lá teve um almoço com parte de sua família, sentiu falta dos gritos de sua mãe mandando ela ajudar sua avó com a limpeza dos pratos e etc. No final da tarde sua madrinha sugeriu que ela e Bruno fossem passear pela orla da praia que ficava a poucos minutos dali. 
Ao sair de casa Laila sentiu um pressentimento ruim mas não deu, pois esse tipo de coisa era quase sempre e ela ainda não sabia o que estava a lhe esperar.
Caminhando pela orla da praia, Bruno e Laila brincavam feito crianças, corriam fugindo um do outro, se beliscavam e entre tudo isso muitos beijos e abraços. Era tudo tão natural, ele pareciam irmãos, tinham crescidos juntos mas ela nunca se sentiu culpada por sentir aquele amor por ele. Ele era um rapaz moreno, de cabelos negros e sorriso largo. Um pouco mais alto que ela e com os braços fortes, quando abraçava-a quase a engolia em seus braços, e ela sempre adorou isso. No final da caminhada eles decidiram se sentar um pouco perto das dunas para conversarem, ao olhar o oceano, o jeito que as ondas dançavam sobre o mar, Laila lembrou de como seu coração doía e por um momento quis entrar mar à dentro até não conseguir mais voltar. Bruno sempre atento percebeu que Laila tornara-se apática instantâneamente.

- O que houve?
- É complicado e longo.
- Temos tempo ainda.
- Eu to apaixonada pelo meu melhor amigo.
- Mas isso eu sempre soube. Eu sei que tu me ama
 Bruno beliscou o braço dela arrancando um sorriso da moça de olhos marejados.
- Não é você bobão.
- Bom, pelo o que eu vejo a situação não é boa. Porque tu tá mais beiçuda do que criança sem bico, das duas uma: ou ele não te ama ou tu ainda não contou.
- Primeira opção.
- Então sabe o que tu faz? Manda ele catar coquinho. Me diz porquê sofrer por um cara que não te quer? O verão recém começou Tita, têm certeza que vale à pena perder uma das melhores estações do ano por causa dele?

Dali em diante parece que mecanicamente Bruno conseguiu tirar Gabriel dos pensamentos dela. Quando chegou em casa ela correu em ligar para suas amigas de escola, elas não tinham muita intimidade, mas pelo fato de sua mãe ser diretora do conselho de Pais & Mestres, as outras meninas eram obrigadas por seus pais à andarem com ela. Em seguida marcaram festas, saídas e algumas noites do pijama. Por um momento Laila sentiu uma felicidade boba por estar se igualando às outras meninas mas logo seu estômago voltou a embrulhar ao lembrar que ser igual à elas era pedir para morrer. Engatinhou para o final da cama onde embaixo das cobertas estava o seu diário, procurou uma caneta e escreveu:

 "Hoje meu dia foi bom apesar de ainda não saber se foi por causa do Bruno ou porque realmente com a história do Gabriel eu fui culpada. Pois ele foi embora sabendo o que eu sentia e ainda assim nunca disse nada que pudesse me dar esperanças que eu poderia alimentar. Mas enfim... Eu vou seguir o conselho do meu primo."

Com um semblante um pouco menos apático nossa garota entregou-se aos braços de Morpheu.


terça-feira, 31 de julho de 2012

POSSIBILIDADES PARTE III


"Não quero mais amar à ninguém.
Não fui feliz, o destino não quis.
O meu primeiro amor morreu
Como a flor ainda em botão
Deixando espinhos que hoje
Dilaceram o meu coração."

Ainda estamos no verão de 2008, e ainda nos encontramos com nossa garota e seu coração leviano. 
Era um entardecer, e já se completava 3 semanas desde a partida de Gabriel, além disso eram 3 semanas de que ele não mandava notícias, não ligava e não respondia as mensagens dela.
O tempo simplesmente não passava mais. S
entada na beira da cama com os pés levemente recostados no tapete de seu quarto, Laila oscilava seus pensamentos entre ele estar recebendo suas mensagens e não querer respondê-las ou ele simplesmente não estar recebendo elas.
O que por acaso era meio difícil, já que ela mandou mensagens de dois números diferentes de telefones e os dois deram como mensagens recebidas e o mais importante, lidas.
Já fazia alguns dias que algo incomodava dentro dela, ela nunca tinha ficado tanto tempo sem falar com seu melhor amigo como ultimamente, mesmo ele não sendo o único melhor amigo dela, ele era o essencial.
Falando em melhores amigos, Laila tinha um melhor amigo que desde 2006 completava junto com ela os dias assim, de angústia.
Ele se chamava Samuel, tinha 26 anos, morava em uma cidade próxima à dela, mas nem tanto... ficavam à 5h de distância um do outro, mas sempre nos verões se visitavam.
Na realidade Laila não o considerava amigo, mas sim um irmão distante.
Eles sempre se ajudaram em partes difíceis e esse personagem em nossa história inteira terá uma importância mais que fundamental.
Então ela ainda inquieta levantou-se e foi chatear sua avó, por alguns segundos ela quis simplesmente sair porta a fora e voltar somente quando seus pais chegassem de viagem mas pensou por alguns segundos e voltou ao seu quarto.
Embaixo da cama ela guardava caixas de todos os tamanhos, de todos os modelos cada uma contendo dentro de si uma curiosidade maior que a outra.
Dentro de uma caixa vermelha com um X preto na tampa ela escondia algumas cartas das quais se comunicava com Sam, em dias de muita angústia ela gostava de reler elas e procurar frases ou palavras que pudessem consolá-la naquele momento.
Dito e feito, achou uma carta na qual dizia "você não pode controlar o tempo." e realmente era aquilo que ela precisava ler para saber de que mais cedo ou mais tarde teria uma resposta para sua inquietude.
Todos os dias quando escurecia ela gostava de ir no fliperama que ficava perto de sua casa para gastar algumas fichas e ver pessoas, em uma noite serena de Janeiro ela resolveu ir mais cedo. 
Calçou seu velho all-star, colocou os fones no ouvido e caminho em rumo ao flipper, enquanto caminhava colocou a mão no bolso de sua calça e curiosamente lá estava o pedaço do pingente que tinha achado no dia em que ele tinha ido viajar. Ela achou um pouco esquisito, na realidade nem se lembrava mais daquilo, guardou de novo no bolso e continuo a caminhar.
Pensou em como seria estranho se por acaso ela pudesse achar o outro pedaço daquele coração, mas como todo pensamento bobo ela logo esqueceu.
Ao chegar no flipper ela se sentou na calçada da frente, onde do outro lado se encontravam meninas de sua idade com shorts e saias minúsculos, com garrafas de bebida nas mãos e gritando para chamar mais ainda a atenção... ela sentia náusea ao olhar tudo aquilo mas, de repente a visão mudou, tudo ficou lento e o som parou. Dentro do fliperama estava Gabriel olhando para ela com um sorriso disfarçado por entre os lábios. Laila não pensou uma segunda vez levantou-se, correu e desmontou ele em um abraço.
Por um segundo eles ficaram se olhando sem nada a dizer a saudade era tanta que nem as palavras queriam incomodá-los naquele momento.
Logo riram por parecerem tão bobos no meio daquele lugar cheio de pessoas estranhas mas tão conhecidas quanto eles.
Foi passar a mão no rosto dele, quando Gabriel corajosamente afastou a mão dela de seu rosto e falou:

- Precisamos conversar Lalli.
- Eu sei, mas não pode ser depois?
- Não... O que eu tenho para te dizer precisa ser dito agora.
- Mas Gabri... Para um pouco, eu tava com tan...
- Eu to namorando.
- !!? Sem reação o rosto dela emudeceu e nada mais saiu de sua boca.
- Então, eu acabei resolvendo a minha vida enquanto estive fora, longe de você eu pude pensar um pouco melhor e,...
- Longe de mim você pensou melhor? Então é um belo argumento para explicar pra sua MELHOR AMIGA de que longe se está melhor não?
- Não foi isso o que eu quis dizer, eu apenas quis te dizer que eu fiquei sozinho e acabei pensando nas coisas que eu deveria, longe de você ou não.
- Mas e as minhas mensagens? E as minhas ligações? Eu pensei em você o tempo todo, a cada dia em que você esteve lá.
- Eu li todas as mensagens, eu recusei todas as suas ligações. Laila você precisa tentar imaginar o quão difícil foi pra mim fazer isso com você, com a gente.
- Difícil? Gabriel, difícil? Além de mentiroso agora você está um pouco mais sarcástico não é?
- Laila, tenta entender!! Eu saí daqui com uma bomba relógio na cabeça, minha melhor amiga apaixonada por mim, o que poderia ser pior?

No mesmo segundo em que terminou de completar esta frase, Gabriel percebeu o deslize que cometeu em dizer que era um erro Laila se apaixonar por ele e pior que isso, colocar a culpa nela.
O rosto dela avermelhou-se, Laila deu às costas e caminhou de forma agressiva para fora do flipper.
Gabriel ficou parado observando ela ir uns segundos pensando em como poderia redimir-se, e chegou a conclusão de que ficar ali parado pensando não era uma das alternativas, então ele saiu apressado procurando por qual lado ela poderia ter ido. Olhou mais a fundo, e no final da rua via-se os cabelos loiro-arroxeados dobrarem à esquina.
Correu, o fôlego não sentiu perder pois, era mais importante alcançá-la do que pensar em qualquer coisa que pudesse ser um obstáculo naquele momento.
Com tudo Laila tinha uma característica muito própria quando magoada, ela calava-se e nada no mundo a faria falar a menos que ela quisesse.

- Espera, para!!
 Laila parou de costas para Gabriel.
- Desculpa, eu não quis dizer aquilo. Mas saiu sem querer.
 Laila quis se virar, mas para socar a cara dele.
- Vira pra mim por favor.
 Laila virou-se.
- Não chora por favor. Mas essa é a realidade, eu não posso mentir pra ti, nem te enganar tu é a minha melhor amiga poxa.
 Então ela sentiu um embrulho no estômago e a vontade de bater em seu amigo sumiu, no lugar dela veio uma vontade de nunca ter conhecido ele, pois ela sabia naquele momento que a amizade deles tinha acabado.
Ela sabia que ao sair dali, ele continuaria sendo Gabriel mas o Gabriel com namorada e ela agora em segundo plano, a amiga que sempre enxugou suas lágrimas.
- FALA ALGUMA COISA RAIOS!! Gritou Gabriel irritando-se com o silêncio intermitente.
- Eu te desculpo, se é isso o que está esperando ouvir. Mas agora eu vou embora.

E assim ela deu às costas e saiu em passos vagarosos que pesavam mais que sua própria carcaça.
Ela esperou ele a chamar ou pedir para não ir, mas isso não aconteceu.
Então continuou caminhando, olhar para trás e voltar era algo sem cogitação.
Laila foi andando sem pensar em nada, ela não queria chegar em casa com o rosto lavado de lágrimas, mas enquanto caminhava ela foi sentindo um aperto cada vez mais forte em seu peito.
Sentou-se na calçada enquanto várias pessoas passavam, algumas perguntavam se ela estava bem outras olhavam desconfiadas, ela quis ficar ali até o dia amanhecer sem pensar em nada e ver se tudo aquilo não tinha sido apenas um mal entendido.
Voltou à caminhar, na volta para casa ela continuava sem pensar, caminhava encolhida com os braços cruzados à frente de seu peito, ao chegar em casa murmurou algo para sua avó e se trancou em seu quarto.
O desespero era tão grande que em frações de segundo ela trancou a porta, ligou o som no volume mais alto, abafou um travesseiro em seu rosto e chorou, chorou até a barriga doer, quando cansada pegou um estilete e cortou seus braços como sempre fazia quando as coisas saiam um pouco do controle.
Quando mais calma pegou o celular e ligou para o seu melhor amigo, e ao pensar nisso, algumas outras lágrimas vieram.

- Olá...!
- Samm.

Com a voz pesada ela começou a contar detalhe por detalhe do acontecido.

continua...