quinta-feira, 27 de setembro de 2012

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"Amor igual ao teu eu nunca mais terei
Amor que eu nunca vi igual
E que eu nunca mais terei."


Voltamos no tempo e nos encontramos onde nossa pequena Laila está entrando em uma fase crítica da vida chamada "pré-adolescência", onde a infância começa a esvair-se e os sintomas mau-humorados começam a aparecer quase que cotidianamente. 
Ela está sentada no sofá esperando admirando sua vovó fazer bolinhos de chuva enquanto seu primo puxa seus cabelos e lhe dá beliscões que deixam roxidões quase que pretos em sua pele branquinha. O choro vêm quase que instantaneamente mas ela segura pois sabe que se colocar a boca no mundo a primeira atitude de sua avó será separar ela dele.

- "Cada um pro seu canto JÁ!"

Não demorou muito e vovó já estava ordenando isso à seus dois netos caçulas, ela ficava em um canto chorando enquanto soluçava chingões à ele, enquanto ele do outro lado da sala ficava esticando a língua o mais comprido que pudesse somente para tirá-la do sério. A relação de Laila com Bruno era exatamente assim, e foi exatamente até o último dia.

Aceleramos no tempo e estamos de volta onde nossa pequena aventureira encontra-se sentada a varanda de sua casa, com as mãos trêmulas e o rosto vermelho. Ela não conseguia se conformar com a atitude de Gabriel e pior ainda, não conseguia se conformar com o fato de que ele voltou atrás. Se tinha uma coisa que irritava profundamente ela eram pessoas que voltavam atrás de suas palavras. Sim, ela estava sofrendo, mas estava convicta de que ele era um caso perdido. Não, ela jamais soube lidar com a possibilidade de "mudanças" nessa história.
Laila entrou para casa, procurou sua avó e quando a achou lhe fez a seguinte pergunta:

"Nanny, você acha que as pessoas nunca estão certas do que falam?"

Com um olhar cheio de sorrisos Nanny tentou explicar à sua pequena o paradoxo existente entre se "equivocar" e se "precipitar" em palavras. Ficaram por horas conversando sobre histórias que mesmo em épocas completamente diferentes eram parecidas. Laila como sempre muito questionante fez com que Nanny desse uma volta grande no mundo paralelo masculino, custou um bocado mas finalmente Laila entendeu que nem sempre os homens falam o que realmente querem e que também não só os homens mas pessoas em geral gostam de ser persuadidas quando a causa é ganha. E no caso de Gabri, a causa era ganha já que ele necessitava de um somente "não vai" quando na realidade já tinha ido. Eram quatorze anos, quatorze anos em pessoa de completa dúvida e negação do que fazer e pra onde ir. Ela sabia que estava completamente nesse mundo infinito mas nunca teve medo disso. 
Depois da palestra explicativa do universo masculino de sua querida Nanny, ela resolveu ligar para o seu melhor amigo mais próximo e colocar as ideias no lugar. As coisas dentro dela ainda estavam bastante confusas após aquela carta, mas se tinha algo de que ela tinha completa certeza era de que não queria ficar mais nem um minuto longe do seu primo.
O celular chamou, foram dezenas de ligações não atendidas. Extremamente irritada ela vestiu seus velhos all-stars e marchou até a casa dele. No meio do caminho foi pensando em como tinha ficado dependente da companhia dele e como isso iria refletir de um jeito negativo quando as aulas retornassem. Faltavam poucas semanas até o início das aulas e ela não sabia de mais nada.
Chegou em frente a casa dele, sua madrinha veio lhe receber, perguntou por ele e logo com a camiseta do seu time rival ele apareceu, com um sorriso largo e despreocupado no rosto. Cara de quem recém tinha acordado, mas acreditem já eram 17h de uma tarde preguiçosa.

- "Que você tá fazendo aqui já? A saudade não aguentou?"
- '"Nossa quanto amor."
- "Não tenho dinheiro, nem pão velho."
- "Para. O assunto é sério."
- "Já disse que só vou morrer daqui a alguns meses."

Ao falar isso, os olhos dela se encheram de lágrimas e ela se agarrou nele, com os braços entrelaçados na cintura dele, ela sentiu o maior medo de sua vida. 
Perder seu melhor amigo.
Ele percebeu que a coisa estava mais complicada do que imaginava então a afastou de seu peito e olhando diretamente para os olhos azuis dela pediu para que ela explicasse o que estava ocorrendo. Laila botou pra fora todo seu medo e sua confusão "adolescêntica", surtou algumas vezes de raiva por Gabriel ter voltado atrás e bagunçado todo seu plano de esquecê-lo e curtir o fim de suas férias em uma fossa incrível mas pelo menos, conformada. Disse também que achou a sua carta no mínimo absurda e que se um dia ele ousasse deixá-la, ela o buscaria até no quinto dos infernos! Com o mesmo sorriso despreocupado ele tentou aconselhar ela a ir conversar com seu amor mal resolvido e não tocou no assunto da carta, a tarde foi caindo e a noite chegando então ela decidiu voltar para casa antes que Nanny ficasse preocupada. No caminho de volta, ela conseguiu colocar as ideias no lugar e pela primeira vez nos últimos meses conseguiu tomar uma decisão. Decidiu esquecer Gabriel, tentar limpar a amizade e seguir com a vida. Algo dizia para ela que se continuasse remoendo essa história o fim não seria nada bom e pior do que ela já se encontrava, não queria ficar.
Ao chegar na esquina de sua casa viu o carro de seus pais estacionado na frente de casa, das duas uma, ou seus pais realmente voltaram ou eles tinham voltado para pegar algo rápido e continuar sua "viagem". Colocou a chave na porta e já conseguia escutar os berros de dona Simone chingando seu "sumiço". Ao entrar em casa foi recebida por uma mamãe zangada, um papai calado e uma vovó preocupada. Ela percebeu que tinha algo errado quando vovó a olhou fixamente, segurou sua mão e a levou até o quarto dos fundos onde lá se encontrava um colchão manchado de sangue. Nanny tentara esconder de sua mãe, mas com uma tentativa falha. Laila não confessou o que tinha realmente acontecido, mas até aí o circo já estava completamente armado. Sua mãe tinha entrado em estado catatônico e sem dar uma única oportunidade de Laila se retratar esbravejou:

"Colégio interno feminino para a senhorita."

Se Laila fosse uma casa, essa frase de sua mãe teria sido um raio onde o mesmo teria partido tudo ao meio. Laila não gritou nem chiou, sentou na beira da escada e com as mãos segurando sua testa que pulsava tentou imaginar como seria sua vida dentro de um colégio interno com meninas que nunca tinha visto na sua vida inteira. Perdendo suas amigas de escola, perdendo o contato com Gabriel e o resto do mundo. Nem um segundo a mais e o chão estava todo vomitado. Como se tudo tivesse indo para o inferno mesmo sua mãe veio berrando uma possível gestação, onde nisso seu pai se meteu e assim a situação se amenizou. Depois de um teste de farmácia negativo e uma Laila humilhada, o ambiente na casa estava se acalmando. Sua mãe entrou no quarto dela e tentou com poucas palavras explicar sua preocupação e zelo, querendo dizer que essa não é a atitude que ela esperava de sua única filha. Depois de uma longa conversa, um abraço selou a paz dentro de casa porém dona Simone não voltara atrás de sua decisão quanto ao colégio interno de meninas e para melhorar a situação proibira ela de ver o seu primo nos próximos três meses. Laila pensou em auto-suforca-se com o travesseiro mas a preguiça lhe impediu. Procurou os fones de ouvido, colocou sua música preferida e se entregou aos cuidados de Morfeu.


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